quarta-feira, 25 de março de 2009

Nota...

Ironia do destino, abro o Metro na manhã de segunda-feira, 23 de março, enquanto estav indo para o trabalho e vejo a nota:

“Governo quer importar água”
O governo de SP estuda explorar águas de regiões a quase 300 km da região metropolitana como o Vale do ribeira, Barra Bonita ou Jurumirim. Segundo a Secretária de Saneamento e Energia, Dilma Pena, alguns desses mananciais terá de ser explorado.

Imaginei a seguinte reportagem:“Governo dos EUA quer importar água de países com disponibilidade do recurso, como o Brasil” e o Sr. Tio Sam dizendo “alguns desses mananciais terá de ser explorado”.

Sei que existe uma ser incompatibilidade nas minhas palavras afinal, é em São Paulo que eu vivo e onde eu deixo meus impostos. Mas exatamente..os impostos ficam aqui. E para a Sra. Secretária eu responderia “Pagando bem, que mal tem”.

terça-feira, 10 de março de 2009

Home...maybe not so sweet..but home

Eu já escrevi sobre o Vale do Ribeira certa vez e de uns tempos para cá, principalmente depois de toda a publicação da mídia nacional sobre os desastres que abalaram Santa Catarina, resolvi voltar ao tema.

Algumas pessoas, é certo, mal sabem onde se localiza no mapa (FUVESTianos não têm desculpa, caiu em 2004, “chá e banana” era a resposta para a questão de “O que se produz na região destacada no mapa?” onde havia ainda a identificação de Registro – para que não sabe, cidade de onde venho..desde os 15 anos..eu cresci, na verdade, em Pariquera-Açu, cidade petitica com uma praça, uma igreja, um coreto, sem Pernambucanas), outras nunca ouviram falar, algumas já passaram de ônibus. É sabido, então, que as notícias não vão muito além de “praga ataca plantação de banana”, “acidente na BR 116”, por aí vai.

Mas realmente me espantou a atenção dada às enchentes de Santa Catarina (já inicio dizendo que sim, fiquei extremamente comovida, achei extraordinária a disposição das pessoas em enviarem ajuda, caminhões com mantimentos, etc) quando comparada às reportagens da mídia para a região mais pobre do estado de São Paulo, o citado Vale do Ribeira, que sofreu enormemente com as cheias. Uma pequena diferença ( sem, é óbvio, diminuir as necessidades das vítimas de SC): as pessoas lá já não têm muito com o que viver em dias normais, em dias de enchentes, mesmo as mais abastadas vão voltar se desdobrar em quatro para comprar outra geladeira, um fogão novo, geralmente tudo destruído quando as cidades se enchem.

E quem ouviu falar disso? Ninguém.

E quantos caminhões vieram de São Paulo ou Curitiba, cidades a 180 KM?? Desculpem-me se me equivoco..não ouvi falar de nada. Ninguém me pediu ajuda para as pessoas que perderam tudo em Pariquera-Açu porque a cidade inteira inundou, o que afinal, não é muito difícil acontecer, há apenas uma “Avenida Principal”. Não ouvi manifestações para recolher-se mantimentos para os moradores de Eldorado, Jacupiranga, Registro, Cajati...nomes certamente desconhecidos do vocabulário dos moradores do Estado, o que dirá dos moradores do país.

Joguei no Google as seguintes palavras de busca e não é muito difícil se espantar com os resultados:"enchente Santa Catarina" - 264.000 resultados e "enchente Vale do Ribeira" -10.100 resultados.

No Jornal Nacional as chamadas diziam entre outras citações “enchentes no Vale do Ribeira” e esperamos ansiosos pela reportagem que viria. Depois de várias imagens sobre Santa Catarina havia uma frase final “Uma pessoa morreu arrastada pelas águas no Vale do Ribeira” e logo depois vieram os “melhores gols da rodada”.

Este post em si, talvez apareça como mais uma citação. Quem sabe alguém olhe...e quem sabe algum dia alguém se mexa. Confesso, não sou a melhor pessoa para falar; há algum tempo deixei o lugar e não pretendo voltar para deixar minhas raízes..mas ainda me dá certa revolta a indiferença que as pessoas mesmo próximas dão às pessoas daquele lugar. Por enquanto eu consigo escrever...quem sabe um dia consiga fazer mais.

A foto eu achei no Orkut de alguém: é a rua principal de Pariquera-Açu, cidade onde crescemos e onde minha mãe trabalhava há até um mês atrás. O bar da esquina pertence ao pai de uma amiga..imagino que tenha sido forçado a tirar o dia de folga. Ela já terminou a faculdade....as pessoas das casas ao lado, provavelmente nunca conhecerão o famoso e maravilhoso “mundo universitário”..com ou sem enchentes.

São apenas 180 km de São Paulo...mas acho que deve haver uma cortina, afinal, fica no caminho para Santa Catarina e provavelmente os caminhões só pararam para tomar um café.

PS: Supreendentemente....é a única grande reserva de água ainda intocada no Estado de São Paulo.Talvez daqui uns anos receba atenção..ou talvez porque nunca ouviu-se falar. O progresso traz malefícios.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Um poema

Lendo uns e-mails antigos encontrei este poema.
Minha mãe me mandou no primeiro e-mail quando eu viajei em 2006.

Sei que é preciso sonhar.
campo sem orvalho,seca
a fronte de quem não sonha.
Quem não sonha o azul do vôo
perde o seu poder de pássaro.
A realidade da relva
cresce em sonho no sereno
para ser não relva apenas,
mas a relva que se sonha.
Não vinga o sonho da folha
se não crescer incrustrado
no sonho que se fez árvore.

Sonhar, mas não deixar nunca
que o sol do sonho te arraste
pelas campinas do vento.
É sonhar, mas cavalgando
o sonho e inventando o chão
para o sonho florescer.

(Thiago de Mello)

Eu tinha esquecido....que ela me ensinou a sonhar.E mais do que isso...ela me ensinou a realizar sonhos.