E pensar que no início te odiei. Não quando te
conheci, no começo, quando era só uma paquera, um caso..pelo contrário, achava
muito divertido passar os fins de semanas e depois ir embora, voltar para a
vida normal. Porém quando fui levada a tornar a relação tão mais séria e
definitiva, não gostei, não queria, mas era uma grande oportunidade, um mal a
viver. Lembro-me ainda que no primeiro dia com você, em 2003, vi um homem lavar
o rosto de manhã em numa
poça de lama. Era você, mostrando sua cara logo de início, sem rodeios, sem
disfarces, o “avesso do avesso” como já diriam por aí.
Ao menos você sempre foi assim, sincera, honesta,
nunca fez falsa propaganda de lindas paisagens, céu azul, gente bonita e bem
disposta. Acho que hoje, é por isso que eu te amo tanto, porque você sempre se
mostrou de verdade, a nós de decidir
se gostamos ou não.
Demorou um bom tempo para a gente se entender. Eu
precisava esquecer o passado e entrar nessa nova vida de peito aberto e
coração, na época um tanto machucado, livre. Aos poucos fui te conhecendo
melhor e descobrindo o seu lado mais humano, mais dinâmico, mais brilhante. Aos
poucos os bares da Vila Madalena foram virando o recanto de quem busca esquecer
o concreto, os arranha-céus e a fumaça que nos impede de ver as estrelas em
certas noites. Ah o centro, esse lugar feio e lindo demais para se passar um
domingo. A Avenida Paulista, onde tantas vezes fui para me encontrar de novo,
me sentir anônima, me sentir parte do mundo; Augusta e meus cinemas e noites preferidos,
pôr do sol na
Praça e tantos outros lados seus que me restam ainda conhecer. Tá aí, umas
das coisas que me fascina, você ainda tem tanto a descobrir. Gente de todo o
tipo, de todos os lados que você acolheu desde sempre.
Dia após dia fui me apaixonando, pouco a pouco, quanto
mais gente eu conhecia. Foi com você que conheci as melhores pessoas que a vida
poderia ter colocado em meu caminho, meus amigos de faculdade, os amigos dos
amigos, gente apaixonada em viver a vida como se não houvesse amanhã, gente apaixonada por conhecer o
mundo, gente disposta e resolvida a dar certo.
Ninguém aí é nativo mas todos se encontram em
algum canto da cidade. Você sempre acolheu a todos. Sotaques caipiras, baianos,
gringos e todo tipo de gente. E acho que é essa diversidade incrível que te
faz tão brasileira,
reflexo do país que acolhe há tanto tempo gente de todo o lugar, que se mistura e dá vida a esse
quebra-cabeça tão bonito e desconcertante ao mesmo tempo. Você é difícil de
entender, exige tempo e dedicação. Mas o amor que sinto por você é tão gostoso
que olhando para trás, hoje, todos os dias difíceis e de crises valeram a pena. Acho que era
para fortalecer ainda mais esse amor, essa paixão
Hoje estamos longe, eu te larguei, é verdade, te deixei por outro alguém. Eu precisava
respirar outros ares, conhecer gente nova, viver outras aventuras. Sempre
souberam que eu era do mundo. Sinto saudades mas sei que um dia a gente se
encontra de novo e você vai me receber assim, com um tapa na cara mostrando que
nada do que eu acho é simples e fácil. Vai ter aqueles lugares feios, gente que nos faz repensar a vida, e tudo o que sempre é quando chegamos por aí. Mas aí eu sei que vamos sair para tomar
uma cerveja no Genésio, ir comer coxinha no Veloso, rir a toa pela rua, passar
uma noite daquelas..e sei que vai ser tudo lindo de novo. Enquanto isso, antes
de a gente se ver de novo e mesmo longe...Parabéns São Paulo pelos 460.
Dessa paulistana nascida aqui e de coração.